domingo, 17 de abril de 2011

Eu Me Lembro

Notas do Autor


Este livro é um livro de lembranças, das minhas lembranças, desde onde começo a perceber as coisas ao meu redor, até meus 21 anos de idade, quando saio de Santarém para vir morar em Manaus no ano de 1990.
Num é uma autobiografia, nem um diário cronológico. Talvez seja minha forma de guardar para mim mesmo e para minha família as lembranças boas e ruins que tenho dessa parte de minha vida. Fatos abaixo podem estar ou não na ordem exata, pois o escrevi conforme as lembranças vieram em minha mente e preferi não reordena-las depois.
Alguns dos nomes de pessoas aqui escritos são fictícios, outros não. Fiz isso para não gerar desconforto em quem quer que seja, porém todos os fatos são verdadeiros, em alguns talvez haja alguma fuga da realidade, pois estes são única e exclusivamente baseados em minhas memórias, algumas desde muito criança ainda.
Espero que este livro sirva para muitos como uma boa leitura e um bom motivo para guardarem também as suas memórias.
Lembranças sempre nos ensinam algo...
Boa leitura!
Capítulo Único

A primeira lembrança que tenho em minha vida é do dia em que minha irmão nasceu, 15 de setembro de 1972, tinha quase 3 anos. Lembro que estava deitado em uma rede que estava atada debaixo da escada do sobrado em que morávamos. Lembro que perguntava para as pessoas se a cegonha já tinha trazido minha irmãzinha e lembro que meu irmão estava deitado em outra rede perto da minha e ficava brincando sem se preocupar muito com aquilo. Lembro que minha mãe estava no quarto e que algumas vizinhas e a parteira estavam lá com ela, esperando a cegonha chegar pela janela; era o que me diziam. Lembro que as pessoas passavam com toalhas e com bacias com água da cozinha para o quarto e eu ficava tentando entender pra que eram. Lembro que não havia outras crianças na casa nesse dia. Lembro que de tanto esperar fui vencido pelo sono e adormeci. Lembro que pela manhã acordei e minha maninha já estava num berço com um mosqueteiro cor rosa protegendo-a das carapanãs. Ela era bem branquinha e loira, muito bonita. Lembro que fiquei na janela tentando entender como a cegonha não bateu num cajueiro muito grande que tinha no quintal e que tampava toda a passagem para a janela. Lembro que esse cajus eram enormes e nunca mais eu vi cajus como aqueles; a não ser num pé que depois meu pai plantaria em nossa nova casa. Lembro que do nascimento de minha irmã é isso que me recordo. Lembro que o sobrado que agente morava era lindo, ficava no morro do sapo, na estrada que chamavam de rodagem, mas que depois descobri que o nome é Avenida Magalhães Barata. Lembro que a escada de acesso para a parte de cima era muito bonita e que depois esta escada foi levada e posta em nossa nova casa, foi a única parte que ficou inteira quando meu pai desmontou nosso sobrado. Lembro que a casa era coberta com cavacos de madeira. Era uma casa somente cm um grande quarto, uma sala, cozinha e uma pequena varanda na frente. Lembro que a parte de cima era somente um quarto e havia a parte do forro da varanda, onde agente costumava se esconder se equilibrando sobre os caibros. Lembro que ela era branca nas laterias e na frente as ripas eram azuis. Lembro que entre uma tábua e outra havia ripas para tampar as frestas. Lembro que havia uma porta frontal e uma porta lateral. Lembro que na varanda haviam cadeiras de vime e uma pequena mesa, onde mamãe colocava toalhas de seus bordados e um vaso de porcelana com flores colhidas do jardim que havia na frente da casa. Lembro que o jardim era bem cuidado e haviam muitas plantas que não lembro o nome. Lembro que debaixo de uma dessas plantas, que formava uma espécie de cobertura, algumas pessoas diziam que ali havia aparecido uma mulher vestida de branco e que muitos diziam ser Nossa Senhora. Lembro que haviam flores brancas, vermelhas, amarelas. Lembro que algumas eram muitos perfumadas e essa onde apareceu a mulher exalava um perfume muito bom. Lembro que algumas plantas tinham espinhos e que muitas vezes eu me furava nelas, pois era muito traquino. Lembro que no portão de entrada do terreno para a casa havia uma espécie de casinha e uma bela cancela de duas portas. Lembro que o terreno onde o sobrado era erguido tinha um tamanho enorme. Lembro que nele tinha muitas árvores frutíferas. Lembro das mangueiras, muricizeiros, cajueiros, goiabeiras, taperebazeiros, pé de seriguela, mamoeiro, bananeiras. Lembro que a direita e a esquerda da casa, que dava uma extensão de 40 metros para cada lado, tinha dois grandes muricizais. Lembro que no lado esquerdo da casa havia cajueiro e do lado esquerdo duas mangueiras, isso logo perto. Lembro que nos fundos havia um banheiro separado da casa e bem na sua frente uma pequena casa de único vão. Lembro que nessa casa morava meu avô, pai de meu pai. Lembro muito pouco de meu avô e sei que ele já era bem idoso e caducava. Lembro que depois essa casinha virou garagem e local para guardar quinquilharias. Lembro muito dos dois pés de tamarinos que agente usava para brincar, eles ficavam no fundo do terreno a direita. Lembro que eu, meu irmão e muitos amigos ficávamos passando de uma árvore para outra e lembro que perto deles havia um terceiro pé que raramente agente subia nele. Lembro de um pé de jucá que eu pegava vargem para fazer chá para as pessoas que vinham buscar e lembro que eu achava que o pé de jucá era primo do tamarineiro, pois eram muito parecidos. Lembro que agente brincava muito no quintal e lembro que as árvores faziam parte das brincadeiras, elas eram nossos melhores brinquedos. Lembro que fazia fazenda com ossos de boi e colocava dentro de um cercadinho feito com palitos e os cada osso recebia um nome peculiar, como boi malhado, berrante e mimoso. Lembro que a maior árvore nesse enorme terreno era um pé de eucalipto. Lembro que ele era muito alto e o tronco liso, não dava para subir nele. Lembro que caçava camaleão e mucuras no quintal. Lembro que o mucura macho a mamãe tratava e cozinhava e ficava parecendo galinha, de tão gostoso. Lembro que o papai enganava os amigos deles que diziam jamais comer mucura e ele servia como se fosse galinha de terreiro; depois que eles comiam lembro que ele os levava até o jirau da casa e mostrava os restos da mucura. Lembro que alguns chegavam a vomitar. Lembro que o vizinho que morava bem na casa de frente a nossa comia camaleão e quando agente matava algum mandava pra ele. Lembro que agente comia isso não por não ter o que comer, e sim porque gostávamos. Lembro que agente tinha no quintal criação de muitos animais. Lembro que tínhamos patos, galinhas, porcos, capotes, gansos, codornas. Lembro que teve uma época que papai criou bode e carneiro também. Lembro que sempre a mamãe preparava algo de nossas criações e que ela temperava com ervas e verduras da horta que havia pro lado esquerdo do terreno. Lembro que lá havia cebolinha, coentro, chicória, alface, couve, pepinos, quiabos, maxixes, tomates e muitas outras. Lembro que logo após os canteiros havia um bananal onde agente sempre colhia cachos de diversos tipo de bananas. Lembro que tinha banana roxa, casada, branca e maçã. Lembro que tínhamos alguns cachorros de estimação e lembro que de vez em quando o papai ia caçar com amigos na floresta e levava dois cachorros de caça. Lembro que eles sempre traziam alguma caças e faziam uma grande roda no quintal para tratar e pelar os bichos. Lembro que depois a carne era distribuída igualmente entre todos. Lembro que eles traziam pacas, tatus, antas, porcos do mato, capivara. Lembro que naquela época isso era permitido e agente não tinha noção que caçar esses bichinhos poderia coloca-los em risco de extinção. Lembro que gostava de ajuntar murici do chão e bater com leite num copo para comer, pois era muito gostoso. Lembro que gostava de comer manga trepado no próprio pé com uma faquinha que levava no bolso para cortar as frutas. Lembro que manga verde com sal era muito gostoso e agente nem esperava a primeiras mangas amadurecerem e já estávamos trepando no pé de mangueira para comê-las assim mesmo. Lembro que caçava passarinhos com baladeira feita de liga de pneu de caminhão e um pedaço de couro. Lembro que pegava uma forquilha de goiabeira para ser a mira e apoio de mão da baladeira. Lembro que eu era muito bom de mira com a baladeira e que quase nunca errava uma pedrada. Lembro que muito depois descobri que em outros lugares essa arma recebia o nome de estilingue. Lembro que brincava com meu irmão e que ele sempre fazia brincadeiras malucas me usando como cobaia. Lembro que eu era muito corajoso. Lembro que ele pedia para eu entrar no meio da circunferência de um pneu de caminhão e ele saia rolando o pneu comigo dentro. Lembro que ele soltava o pneu numa ladeira dentro do quintal e que só parava quando batia numa cerca. Lembro que uma vez ele me jogou na ladeira do morro do sapo e escapei de ser atropelado dentro do pneu por uma combi e lembro que só parei porque bati em uma carroça de boi que acabou passando por cima de mim. Lembro que fiquei uns tempos com as costelas doloridas. Lembro que em santarém tinham muitas carroças de boi quando eu era criança e elas faziam frete de pessoas e cargas. Lembro que uma vez, quando eu era muito criança, eu estava me pendurando em uma cerca de arame farpado e escorreguei ficando pendurado por uma de suas farpas que cravou-se em minha coxa esquerda, isso me causou um enorme corte e eu perdi muito sangue. Lembro que até hoje tenho a marca deste corte na coxa. Lembro que nessa mesma coxa, quando eu já era jovem, um pedaço de flandre que voou da explosão causada por uma bomba de São João, posta sob uma lata de leite a atingiu, causando um outro corte perto da marca do anterior e até hoje também tenho essa marca. Lembro que era comum agente, na época de São João, colocar bombinhas dentro de latas de leite ninho e ficar vendo o fundo da lata subir alto quando a bomba explodia. Lembro que agente colocava também dentro de latas de cera cachopa. Lembro que um amigo nosso uma vez colocou dentro de uma garrafa de coca-cola e foi atingido por vários pedacinhos de vidros ficando todo cortado. Lembro que só existia três linhas de ônibus em Santarém que eram o Rodagem, o Prainha e o Liberdade. Lembro que eram ônibus bem velhos e que eu gostava de andar neles com minha mãe para ir lá pra baixo. Lembro “que lá pra baixo” era como agente chamava o centro da cidade. Lembro que a ladeira do morro do sapo era de barro e piçarra. Lembro que quando chovia ela ficava muito lisa e agente se sentava na frente de casa para ver os carros e ônibus derraparem e alguns tinham que ser puxados para poder subir. Lembro que o ônibus que vinham de Belterra e Mujuí dos Campos sofriam em dias de chuva nessa ladeira. Lembro que existiam muitos paus-de-arara que faziam linhas para as Colônias. Lembro que Colônia é como agente chamava os interiores perto da cidade, para onde se podia ir de carro. Lembro que tinha a Colônia do Jabuti, do Tabocal, de São José, do Miguel das Freiras, e muitas outras que não lembro. Lembro que meu pai tinha terras na Colônia do Tabocal, mas ele vendeu tudo um dia. Lembro de uma única vez que fui com ele e estavam desmontando uma casa e recolhendo as madeiras; sei que devo ter ido outras vezes, mas só me lembro dessa e não sei quantos anos eu tinha. Lembro que agente ia numa Rural que ele tinha. Lembro que meu pai tinha também uma Lambreta e lembro que muito depois ele comprou um fusca azul. Lembro que meu pai tinha uma usina de beneficiamento de arroz dentro de nosso terreno na cidade e lembro que ele ganhava muito dinheiro com isso. Lembro que além disso ele tinha uma fábrica de pipoca de milho de galinha e que a pipoca dele era muito gostosa, até hoje com 40 anos nunca comi um pipoca tão gostosa como aquela. Lembro que ele mesmo inventou as máquinas que pelavam o milho e que faziam o milho virar pipoca. Lembro que a máquina era aquecida com o milho dentro e ficava sendo girada por ele. Lembro que quando o ponteiro do manômetro da máquina marcava 45 alguma coisa, ele batia com um pedaço de pau na tampa e essa se abria fazendo um barulho muito alto, como um tiro de canhão. Lembro que a pipoca saía quentinha e era depositada num corredor de madeira e de lá colocada dentro de grandes gamelas de madeira. Lembro que esse tiro era por muitos usado como despertador no bairro onde morávamos e que ninguém nunca se incomodou com o barulho. Lembro que meu pai acordava todos os dias as quatro horas da manhã para fazer pipoca. Lembro que eu e meu irmão fazíamos saquinhos de papel manteiga que meu pai cortava com uma faca, em tamanhos padronizados para dois tipos de sacos, o pequeno e o grande. Lembro que agente usava uma forma feita de madeira para moldar o saco e que passávamos cola feita de goma de tapioca para colar. Lembro que eu era super rápido e meu irmão muito mais. Lembro que na primeira vez que venci ele numa contagem de 100 sacos, eu fiquei muito contente e ele chateado porque agente gostava muito de competir. Agente colocava a forma sobre o papel, com a mão esquerda dobrava um lado sobre metade da forma, com o dedo indicador da mão direita passava-se a cola e com a mesma mão dobrava-se a outra parte do papel sobre a primeira; na parte superior era fechado o fundo do saquinho com um movimento rápido dos dedos indicadores e polegares de ambas as mãos. Lembro que a forma de fazer saquinhos era parecida com um picolé em sua forma. Lembro que depois eles eram arrumando em maços de 100 um sobre o outro amassados para ocupar menor espaço. Lembro que agente enchia esses saquinho com a pipoca salgada em grandes tachos de alumínio e que o papai e mais alguns homens vendiam em carrinhos que tinha uma buzina que meu pai fazia com aquele borracha de fazer lavagem intestinal e uma corneta de sobro. Lembro que esse negócio cresceu tanto que meu pai decidiu fechar a usina de arroz. Lembro que agente vivia muito bem de tudo. Lembro que nunca fomos ricos, mas que sempre tínhamos de um tudo dentro de casa. Lembro que meu pai contratava mão de obra do bairro para ajudar no negócio de pipocas. Lembro que eu tinha muitos amigos no morro do sapo, mas lembro que dois eram os mais chegados, aqueles inseparáveis. Lembro que estudei a alfabetização com um deles na casa do outro e a irmã desse outro foi minha primeira professora de jardim. Lembro que os nomes deles eram Edmilson e Ernane e agente era muito amigo. Lembro que quando agente brigava ficávamos de mal um com o outro. Lembro que para ficar de mal agente colocava a ponta do dedo indicador de uma mão encostando na ponta do da outra e dizia “corta aqui”. Lembro que se a pessoa separava os dedos com o dedo indicador de sua mão direita, agente estava de relação cortadas. Lembro que sempre agente voltava atrás e ficava de bem em menos de uma semana. Lembro que quando um estava de mal com o outro e íamos brincar no quintal, agente usava o que estava falando com os dois para dar recado pro outro. Lembro que na escolinha as meninas ficavam mostrando a calcinha pra gente e agente naquela época já sentia desejos por elas. Lembro que minha primeira paixão infantil fora a irmã de um de meus amigos e que ela nunca me deu bola. Lembro que agente brincava de futebol junto com as meninas, na frente da casa do Edmilson. Lembro que o nome do pai dele era Seu Bastinho e lembro que ele era o padrinho de minha irmã. Lembro que a frente da casa era uma areia vermelha que levantava muita poeira e agente ficava com a garganta cheia de pó de tanto brincar nela. Lembro que agente brincava de Cai no Poço e lembro que sempre eu queria escolher uma menina pra beijar e passear. Lembro que a brincadeira era muito divertida, mas que sempre nosso objetivo era beijar e pegar na mãos das meninas, isso era lá pelos idos de 1977. lembro que agente brincava também de Anelzinho, que era simular que tinha um anel entre as mãos e ia se passando entre as mãos dos demais repetindo: pegue esse anelzinho e não diga nada a ninguém. Lembro que o anel era posto na mão de uma das pessoas que estavam na brincadeira e que esta pessoa podia escolher uma para dar um beijo, ou passear de mãos dadas, ou dar um abraço. Lembro que naquele tempo agente não sabia o que era beijo na boca e lembro que agente ainda não tinha televisão na cidade de Santarém. Lembro que agente brincava de esconde-esconde e agente se escondia dentro da casa de Seu Bastinho. Lembro que agente era muito unido nessa época, mas que aqui acolá sempre tinha um de mal com o outro, coisa de criança. Lembro que naquele tempo tudo era muito bom e agente era muito feliz. Lembro que depois que meu pai fechou a fábrica de beneficiar arroz o Seu Bastinho colocou uma usina pra ele. Lembro que vinham muitos caminhões com arroz e feijão do interior e agente brincava subindo na ruma de arroz com casca e nas saca de arroz e feijão que ficavam dentro do depósito da usina. Lembro que perto de nossas casas tinha um posto de gasolina e agente pegava umas rodinhas de ferro e com elas fazíamos um brinquedo que não sei o nome, mas que era uma febre entre agente. O brinquedo consistia em uma vara de madeira com um arame dobrado na ponta de baixo em forma de U e agente usava essa varinha com arame para fazer a rodinha girar. Lembro que agente fazia competição com esses brinquedos e lembro que meu irmão era fera e fazia muitas acrobacias com o dele. Lembro que meu pai fazia brinquedo com latas de óleo que naquela época eram de frande e quadradas. Lembro que ele fazia ônibus, caminhão, carros diversos. Lembro que para fazer as rodas eram usados pedaços de sandálias havaianas e para o eixo era usado arame duro. Lembro que tinha gente que fazia esses brinquedos com tamanha maestria que eles ficavam parecendo miniaturas dos de verdade. Lembro que na feira do centro da cidade era comum agente ver esse tipo de artesanato reciclável sendo vendido, mas que agente nem sabia o que era reciclagem naquela época e essa técnica se perdeu no tempo. Lembro que agente brincava de empinar papagaio e que papagaio é como agente chama pipa aqui no norte. Lembro que agente pilava vidro dentro de uma latinha e passava esse vidro pilado misturado com cola feita de goma de tapioca na linha para poder trançar e cortar a linha dos outros. Lembro que em Santarém existiam verdadeiras lendas no empino de papagaio. Lembro que tinha um rapaz que morava lá pra bandas do buracão, assim era como agente chamava a rua onde ele morava, que era um dos mais temidos. Lembro que o papagaio dele era sempre vermelho com uma listra branca na parte de cima, era assim que ele era reconhecido nos céus. Lembro que uma vez vi ele de perto empinando seu papagaio e para mim ele pareceu uma estrela de algo, mas que naquela época não tinha como comparar com um astro, pois não conhecia nem cinema e nem banda de música, mas mesmo assim eu o admirava como tal. Lembro que tempos depois eu fiquei tão temido quanto ele quando empinava meu papagaio numa área perto de nosso bairro.

Lembro que na juventude saía atrás de garotas e não sabia nada de paixão, depois saia atrás de um amor, e depois só de sexo. Lembro que um dia descobri que cada coisa era diferente. Lembro que na escola de segundo grau uma professora de sociologia me ensinou que paixão poderia virar amor um dia e que sexo poderia fazer nascer uma paixão que poderia virar, talvez, também um novo amor, nunca mais me esqueci disso: Sexo, paixão e amor. Lembro que ela me disse que ser feliz era ter tudo isso ao mesmo tempo com a mesma pessoa, mas não era infelicidade ter apenas um deles de cada vez, por tentar encontrar os três, isso me ajudou a ser feliz sozinho.